Manuel de Arriaga
Manuel de Arriaga foi mais que o Primeiro Presidente da República Portuguesa Constitucional, foi a pessoa que definiu o que seria um Presidente da República em Portugal. Reputado advogado e paramentar português, conhecido pelo seu poder de Oratória, foi eleito em 1911 para ser o Primeiro Presidente da República. Haveria de abdicar, forçadamente, para Teófilo Braga em 1915.Citações
Meus Senhores: esta Assembleia Nacional Constituinte acaba de depositar nas minhas débeis mãos um tesouro quatro vezes precioso: o da Liberdade, em nome da qual trataremos, com o auxílio de todos os que vierem em volta de nós, de eliminar todos os privilégios que, sendo mantidos à custa da depressão e ofensa dos nossos semelhantes, são para mim malditos.
Depositou, além da Liberdade, uma coisa sagrada acima de todas: a Honra da Pátria.
Perante o estrangeiro e perante a nossa consciência, nós vamos honrar, com os nossos sacrifícios, por uma solidariedade inevitável, uma triste herança – a do passado, cheio de compromissos por culpas que não são nossas – encontraremos, no entanto, na alma do povo, energias bastantes para nos redimirmos aos olhos do mundo.
Nas virtudes democráticas buscaremos os elementos da nossa regeneração.
Não falemos mais nos erros dos contrários depois de os condenarmos, porque as virtudes da democracia valem bastante para esquecermos os inimigos da Pátria.
Há outro tesouro, principalmente, precioso: o Povo Português – este tutelado de séculos que está completamente desvalido, sem a luz da justiça moderna!…
É necessário acalentar aquelas almas, enriquecer e arrotear aqueles corações perdidos para a Verdade, para a Justiça e para o Amor.
Este o objetivo mais dileto do meu coração – os oprimidos.
Resta-me lembrar a simpática missão de chamar à conciliação, à paz, à ordem, à harmonia social a família portuguesa, em nome da Liberdade, em nome da República, em nome da nossa libérrima Constituição.
Segundo os princípios nela consignados, e sob a intervenção direta do povo soberano, deixarão de existir, como até agora, opressores e oprimidos; daí o antagonismo irritante das classes ligadas pela fatalidade e pela força e não, como de hoje em diante, pelo Amor e pela Justiça – cumpre-nos fazer do nosso Estatuto a Cidade Santa do Direito Moderno; conseguir que este direito seja tão invejado pelos nossos inimigos, como outrora o foram as cidades de Atenas e de Roma.
Hão de vir para nós os que de nós fugiram. Em nome da Pátria e da Liberdade, nós aqui estamos para os receber.
E, a vós, o tributo inalterável da minha gratidão, por confiardes num velho que pouco vale, mas que poderá muito com o vosso auxílio.
Discurso de tomada de posse de Manuel de Arriaga na Assembleia da República