O Pão Por Deus é uma tradição bem Portuguesa, mas a sua origem evolução e história até hoje é algo fascinante. Por vezes no entanto pensamos que poderá estar ameaçado por um Halloween que até poderá ter raízes longínquas partilhadas.

A globalização tem cada vez implementado mais o Halloween entre os Portugueses. O fenómeno da televisão, e mais recentemente a Internet, trazem até nós esta festividade anglo-saxónica.

As Origens Pagãs

As oferendas aos mortos nestas alturas do ano são comuns em diversas culturas pagãs, incluindo as celtas que habitaram o que é hoje Portugal.

Tendo em conta que muitas teses apontam a origem do Halloween como festividades célticas é interessante ver as semelhanças e desenvolvimento de ambos.

Também sabemos que muitas festas pagãs foram aos poucos tomando roupagens Cristãs, e a pouco e pouco se fundiram.

A Origem do Pão Por Deus Cristão

Com o passar dos anos foi cada vez mais promovido pela Igreja Católica o culto dos mortos, e a tradição de reservar lugar à mesa, e também de deixar comida para os mesmos.

Começou também o costume de deixar o primeiro pão de uma fornada nesta altura à porta da casa tapado por um pano. Seria para honrar os mortos, mas a intenção era também quem de mais pobre por ali passasse tomasse a parte física para si.

Assim este pão para os fieis defuntos começou a ter a vertente de partilha com quem necessitava.

O Terremoto de 1755

Um dos dias mais negros da história de Portugal é o de 1 de Novembro de 1755. Neste Dia de Todos os Santos, Lisboa viria a sofrer a maior catástrofe da sua história, sendo muito do país também afectado por ela.

Aí os afectados por tal tormenta foram a quem algo salvou pedir Pão Por Deus, tentando ter algo para matar a fome, aos que sobreviveram à catástrofe,

Relatos contam que nos anos seguintes nesse mesmo dia se aumentou o costume do Pão Por Deus, em jeito de celebração e agradecimento a quem tinha sobrevivido. Talvez por isso esta tradição seja tradicionalmente mais forte na região da grande Lisboa.

Pão por Deus

A Evolução até aos dias de Hoje

Com o passar dos anos progressivamente passou a ser cada vez mais um peditório das crianças. No século XX, onde os registos são mais constantes e fiáveis, começamos a ver muito o Pão Por Deus como a festa das Crianças.

Neste dia as crianças de manhã cedo iam de porta em porta a pedir o Pão Por Deus. Recebendo tradicionalmente frutos secos, romãs, pão e bolos.

Nos anos mais recentes, e mesmo contando alguns ciclos de menor fulgor, começou a ver-se cada vez mais como um dia em que as crianças pedem de porta em porta doces, sendo que ainda se continua a ver alguns frutos secos.

O saco de pano do Pão Por Deus é muito comum em todos estes registos, e nos dias que correm continua a existir, sendo que com a Internet temos visto muitos pequenos negócios a vender até versões personalizadas dos mesmos.

O Doçura ou Travessura Português

Um dos pontos de enfoque da cultura popular americana, que nos chega pela televisão e Internet, é a doçura ou travessura. É, no entanto, engraçado ver que algo semelhante existe tradicionalmente registado em Portugal.

As rimas e cantigas são normalmente descritas quando as crianças batem à porta. E em alguns casos vemos que detêm estrofes de agradecimento a quem oferta doces, mas menos simpáticas para quem não o faz.

A Cantiga Inicial

Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados

À bela, bela cruz
Truz, Truz!

A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s’alevantar
Para vir dar um tostãozinho.

A resposta nas casas em que são ofertados doces.

Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.

E a resposta para quem não os dá

Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto

Variações ao longo do país

Em muitas outras regiões do país o Pão Por Deus é celebrado. No entanto existe ao longo do território algumas variações do mesmo.

Na estremadura é conhecido muitas vezes como o “Bolinho”, e a tradição é dar bolos festivos especialmente confeccionados nesta época do ano.

Já nos Açores a tradição é dar estas caspiadas, que dizem lembrar a o topo de uma caveira humana, honrando assim também os mortos.

Desde a tradição celtica, passando por todas as tradições cristãs, o Pão Por Deus é neste momento uma festa do povo, e mais que tudo das crianças.

Com ou sem máscaras, com ou sem Halloween, o Pão Por Deus está para ficar, e penso até que tem voltado a crescer nos últimos anos. E é mais uma bela tradição de Portugal.

38 COMENTÁRIOS

  1. Quando era criança, vivia no Mucifal Sintra,ia pedir o pão por Deus,de porta em porta com um saco de retalhos feito pela minha avó, recebia de tudo um pouco, frutos secos, doces,etc.era uma alegria nesse dia,belos tempos

  2. É engraçado que nunca tinha ouvido falar em tal tradição, em quase 50 anos de vida, nada e criada em Lisboa, até começar a ver comentários e artigos no Facebook, à relativamente pouco tempo…

    • Lisboa foi perdendo este costume com os anos. Mas na zona Saloia, especialmente em Mafra, Loures e Sintra, foi-se mantendo bem viva. E tem vindo a voltar a crescer nos últimos anos.

    • Verdade, eu sou Açoreana de Sao Miguel, nunca ouvi, nem o fiz. somente ha alguns anos li que se fazia isso em Portugal. 🙂 Interessante e unico. Acho que as crianças adoram isso. Devia continuar se, mas da nossa maneira. nao seguindo tradiçoes de outros Paises. Bom dia

  3. Nascido e criado em Lisboa nunca ouvi falar em pão por deus, a única coisa que eu me lembro é de eu e os putos do meu bairro fazermos uma espécie de competição no mês de junho ao fazermos os tronos de Santo Antônio e de correr atrás das pessoas a pedir”um tostão para o Santo Antônio”

    • Na Cidade de Lisboa durante muitos anos esteve em declínio, e penso ainda hoje não ser onde mais se vê. Já na zona saloia envolvente era algo muito comum, e cada vez a crescer mais de novo.

      Quando ao “tostão para o Santo Antônio” será algo interessante a abordar por aqui mais tarde, o que me diz?

      • Só revela que Portugal era muito rico em pobres, tanto se pedia na província, “O Pão Por Deus”, como em Lisboa se pedia “Um tostão Para o Santo António”
        Ainda vão para o facebook dizer as asneiras de que “antigamente é que era bom”

        • E não entende o comentário porque não quer.
          Evidente que ninguém pretende regressar á miséria do “antigamente”, todavia a saudade dos momentos felizes em volta duma mesa, da generosidade, da amizade, da união que existia “antigamente” entre as pessoas, enche os corações de hoje quando se sente uma absoluta ausência de amor, de carinho entre as pessoas.
          Entendeu ou quer que lhe faça um desenho? ????????????

        • E não entende o comentário porque não quer.
          Evidente que ninguém pretende regressar á miséria do “antigamente”, todavia a saudade dos momentos felizes em volta duma mesa, da generosidade, da amizade, da união que existia “antigamente” entre as pessoas, enche os corações de hoje quando se sente uma absoluta ausência de amor, de carinho entre as pessoas.
          Entendeu ou quer que lhe faça um desenho? ????????????

  4. Realmente, nascida e criada no litoral alentejano…nunca ouvi falar em pão por Deus. Na escola,nas aulas de inglês comemoravos o Halloween. Quando fui morar para a zona de Sintra é que soube de tal tradição. Agora aqui..d volta ao litoral alentejano…vejo que existe..de forma diferente. Na noite de 31 de outubro as crianças (inclusive a minha filha), juntam.se e vao de casa em casa pedir doçura ou travessura. Poucos religiosos se vêm por aqui. Tal como a educação que a minha filha tem. Se um dia resolver defender uma fé.. será de livre escolha.

    • Fico sempre confuso com: p/ex. “Poucos religiosos se “vêm” !?? por aqui ??? Julgava que ainda era…”vêem” !!! ou não ?? E já agora…cá por Sintra também se está a perder esta tradição.É pena pois era uma outra forma da “miudagem” conviver alegremente saindo das rotinas habituais.

  5. Em Odivelas, arredores de Lisboa nunca vi nem ouvi tal história do pão por Deus, só do tostão para o Santo António. Quando a minha mãe se mudou e foi morar para maceira, arredores da batalha, descobrimos esta tradição. E começamos a participar. No entanto, ainda nunca fiz esse pão e não sei se estará algures na net para aprendermos! As tradições não se perdem se cada um de nós apostar nela e influenciar outros.

  6. No dia de hoje, há 50 anos em Lordelo do Ouro, Porto, iamos pedir em grupo, de porta em porta, a “sopinha”. E davam-nos de tudo, castanhas, figos, “moletes”, tostões, fruta, etc…Numa das casas, de gente importante e devota, para nos darem alguma coisa obrigavam-nos a esperar e a rezar. À medida que chegavamos iamos para uma sala e tinhamos de aguentar até reunir um grupo grande para depois se rezar. Era assim.

    • Estou muito feliz por encontrar alguém que me lembre desta tradição; Pois é verdade sim senhor já saí do Porto há 45 anos, também de Lordelo do Ouro, pois foi lá nessa freguesia que nasci, me Batizei, fiz a Comunhão e Crisma, precisamente na igreja de Lordelo. Só não me casei nessa igreja, porque já não vivia no Porto. Mas recordo com saudade tantas e tantas tradições dessa freguesia que embora no coração do Porto, era muito bairrista, e mais parecia uma aldeia. Também eu pedi a sopinha, um tostãozinho pró S. João, e depois pedia também pró S. Pedro. Na minha rua toda a gente se conhecia, e acho que ainda hoje os antigos alunos da escola da Ponte se juntam pra fazer todos os anos um almoço. Obrigada por ter falado na nossa Freguesia /Lordelo do Ouro/, e na nossa linda cidade do Porto. Felicidades e Bem Haja

  7. Carla, ainda nunca fez esse pão, e diz não saber se a receita está na net. Certamente que não a irá encontrar porque “Pão por Deus”, não é um tipo de pão, que se faça, sob receita, mas sim algo que engloba diversas surpresas/iguarias que tradicionalmente se ofereciam, e ainda oferecem às crianças que andam de porta em porta a pedir o “Pão por Deus”; romãs, figos-secos, nozes, broas dos santos, rebuçados, chocolates, ou outro tipo de surpresas que a imaginação dos dias de hoje quiseram juntar à tradição de outros tempos, no sentido de a manter viva, renovando-a

  8. Fui muitas vezes aqui em Sintra ao pão-por-deus e davamn-os sempre castanhas, pão doce , rebuçados ás vezes bonbons . Nós adorávamos, sobretudo nos cafés era onde nos davam mais coisas. Agora há poucas crianças em Sintra (e milhares de turistas) mas algumas ainda fazem. Ontem de manhã passaram por aqui algumas crianças (ca 15 no total ) e dei gomas e outras coisas do Lidl. Mas costumavam ser muitas mais ……

  9. Sou açoriana: sempre me lembro de andarem a pedir o “Pão-por-Deus ” , e ñ eram só crianças . Eu só me lembro de ir uma x já com 15 anos na brincadeira ,disfarcei-me de velha montada numa égua e fui a casa de um tio meu ,a minha tia e primas fartaram-se de rir mas tive de trazer umas “cambadas” de maçarocas de milho k era o k mais as pessoas davam naquele tempo. E ainda havia o costume de pedir “o milho pras almas” k dp era vendido e o dinheiro era pra rezarem missas por alma dos defuntos . Mas essa das “caspiadas” nunca tinha ouvido , deve ser tradição da ilha k ,para os continentais, é os Açores . Mas elas são 9 e cada uma tem os seus próprios costumes e tradições. Mas eu gosto de conhecer outras culturas …

  10. Na zona de Leiria a esta festa chama-se o Dia do Bolinho, hoje muito celebrada pelas crianças. As escolas ajudaram a recuperar esta tradição antiga, que faz parte da nossa cultura. As crianças batem `a porta e pedem” Ó tia, dá bolinho?”. Bolinho (a receita que já se pode procurar na net) é um dos presentes, mas quem prefere oferece guloseimas ou alguma moeda.

    • Sim, sou de Ourém e eera essa tradição. Os bolinhos, secos, tinham várias receitas (havia umas 3 ou 4) ams a pesoa também davam outras coisas porque ficava caro fazer bolinhos para toda a miudagem: rebioçados, linguas de gato… e moedas. Quando era pequeno (anos 60), de manhã corríamos a vila e á tade íamos aso lugares junto da vila, para Oeste. O que recolhíamos, íamos comendo nos dias seguintes.

  11. No meu litoral Alentejano, tb pedíamos “bolinhos” dizendo: bolinho, bolinho, por alma do seu defuntinho” e cada pessoa dava o que queria ou podia: rebuçados, fruta, moedas, etc.

  12. Cresci, na Madonna, Parede no concelho de Cascais onde ia com os meus vizinhos pedir no bairro o pão por Deus à cerca de 30 anos. Só muito recentemente é que começou os “festejos” do halloween.

  13. Também conheço Lordelo d´Ouro no Porto, onde o meu pai viveu até à sua morte. Hoje depois da construção do hotel e da limpeza que a CMP fez, está tudo muito diferente e realmente mais bonito, mais limpo, iluminado e hoje faz quase parte do cento do porto, com a vantagem da praia ficar perto. Dá para ir a pé. Estou convencido que dentro em breve será uma zona com muita urbanização. Não Lordelo já foi bairro periférico e humilde, não é mais.

  14. Gostei muito de sua postagem,isso é bom para preservara-se e divulgar-se as tradições que nos foram legadas. Sou nascido na Ilha Terceira (1947) e no meu tempo de rapaz tínhamos uma “cantiga´´ a quem nada nos oferecia: “SOCA VERMELHA SOCA RACHADA TRANCA NO (. . .) A QUEM NÃO DÁ NADA´´ Claro que era bem malcriada mas era só para aqueles que sabíamos serem sovinas. Rapazes . . . quem os segura nas suas traquinices.

  15. No meu concelho, onde vivi durante alguns anos, que é Grândola. Eu e mais crianças ía-mos pedir o pão por Deus. Dava nos pão, linguiças, castanhas, figos, moedas e rebuçados. Era muito divertido para nós crianças.

  16. Sim, sou de Ourém e eera essa tradição. Os bolinhos, secos, tinham várias receitas (havia umas 3 ou 4) ams a pesoa também davam outras coisas porque ficava caro fazer bolinhos para toda a miudagem: rebioçados, linguas de gato… e moedas. Quando era pequeno (anos 60), de manhã corríamos a vila e á tade íamos aso lugares junto da vila, para Oeste. O que recolhíamos, íamos comendo nos dias seguintes.

  17. Boa Tarde amigos/as, claro que ninguém quer ir para pior mas, em muitas coisas estamos mais separados de quem precisa, hoje em dia também há pobres e para acrescentar mais os idosos, perdeu por não estar calado e quando passa pelas ruas das nossas cidades não falando nas aldeias nem toda a gente tem tudo que lhes é necessário para sobre viver, na minha casa quase nem pão havis quando eu era criança mas, mesmo assim a minha querida mãe tinha sempre um prato de sopa para quem batia á porta com fome, tenho 81 anos e conheci bem o que foi a miséria, no interior do nosso país ainda lá não chegou a democracia cocha que temos em Portugal, a minha freguesia deve de ser uma das muitas que há em Portugal mais pobres, o médico que havia mais perto era a 3 quilómetros e tinha-nos lá uma escola, tudo isso acabou dizem que não haviam crianças, pois não os habitantes de lá tiveram que Emigrar para não morrerem á fome só ficaram os velhos com os netos mas como não tinham possibilidade de os mandar para longe levaram-nos para os países onde trabalham, os velhos foram morrendo, quando haviam cerca de 3oo crianças nessa aldeia, hoje não há uma só que seja, e continua assim a despovoação do interior do nosso país, antes haviam duas mercearias e duas tabernas hoje não há nada tem que se deslocarem três Quilómetros para comprar alguma coisa para comer, quem pode, se adoece alguém de noite e inverno se o forem buscar é uma sorte e mesmo assim estão sujeitos a morrer antes de lá chegar a assistência….

  18. Sou originario da vila de Minde, distrito de Santarem. Recordo-me perfeitamente de ir pedir o pao por Deus quamndo era mais novo. A minha mae ia ao cemiterio preparar e lavar as campas dos meus antepassados enquanto eu e a minha irma iamos pedir o pao por Deus. Recebiamos bolos, nozes, figos secos, chocolates e ate dinheiro. Era uma alegria ver todas essas criancas com uma alegria nos labios e com os sacos de panos cheios de docaria. Sera que ainda se celebra essa tradicao em Minde ?

  19. Sou originario da vila de Minde, distrito de Santarem. Recordo-me perfeitamente de ir pedir o pao por Deus quando era mais novo. A minha mae ia ao cemiterio preparar e lavar as campas dos meus antepassados enquanto eu e a minha irma iamos pedir o pao por Deus. Recebiamos bolos, nozes, figos secos, chocolates e ate dinheiro. Era uma alegria ver todas essas criancas com uma alegria nos labios e com os sacos de panos cheios de docaria. Sera que ainda se celebra essa tradicao em Minde ?

  20. Boa tarde pessoal,
    sou brasileira, e atualmente resido no sul do país, uma das regiões colonizadas por portugueses. Aqui tem um município que tem viva essa tradição. O importante é respeitar, pobres, nobres entre tantos, possuem tradições, e o que seriamos de nós sem cultura, sem boas lembranças..

    Grande abraço!

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