Portugal durante a época de ouro dos descobrimentos foi não só um país de descobertas, como em algumas áreas geográficas um país fortemente colonizador.
O exemplo maior disso mesmo foi o Brasil na América do Sul, e foi aí que os Jesuítas estiveram intrinsecamente ligados a todo este processo. Um dos primeiros a fazer do Brasil a sua vida e obra foi Manuel da Nóbrega.
Um homem da Academia na Companhia de Jesus
Nascido em Sanfins do Douro, Alijó, a 18 de Outubro de 1517, nasceu numa família letrada e influente. Seu pai era um desembargador, Baltasar da Nóbrega, e era ainda sobrinho de um Chanceler-Mor do Reino.
Como tal a sua caminhada ao serviço do estado ou da Academia seria algo natural. Ingressou na prestigiada Universidade de Salamanca, e posteriormente concluiu os seus estudos na Universidade de Coimbra.
Tentou então entrar para docente dessa mesma Universidade, mas a gaguez de que sofria impediu-o de conseguir o lugar.
Ironicamente a voz seria parte importante da sua vida futura, visto ter-se juntado à Companhia de Jesus, passando a ser um pregador em Portugal e Galiza.
Destino Brasil
D. João III era um católico devoto, e nunca pensava menos na parte da expansão do Catolicismo do que na económica ou militar. É nesse contexto que convida Manuel da Nóbrega é convidado pelo Rei a seguir para o Brasil, e que ele aceita.
Chegou à Bahia em 29 de Março de 1549, e desde logo afirmou aos seus companheiros que seria esta a sua empresa. Dedicou-se a perceber a língua dos indígenas para melhor poder comunicar, e começar a espalhar a sua doutrina.
Participou na fundação e expansão de várias cidades, entre elas o Rio de Janeiro e Salvador, mas a sua grande vitória seria mais a sul, a actual São Paulo.
A Fundação de São Paulo
A ideia da fundação de uma cidade mais para o interior era estranha à maioria dos Portugueses. Aliás podemos observar pela colonização Portuguesa ao longo de todos os descobrimentos e é raro o caso em que se tentou criar grandes colónias afastadas do mar.
No entanto na visão de Manuel da Nóbrega a única maneira de chegar a mais gente do Brasil, ajudar a pacificar a região, normalmente assolada por conflitos locais, e espalhar a sua fé, passaria por entrar pelo território a dentro.
Foi assim que quando descobriu o planalto de Piratininga tomou a ideia de criar ali um foco de colonização. E assim nasceu São Paulo, hoje a maior cidade da América do Sul, e 7ª maior do mundo.
Luta contra o Canibalismo e a defesa da Alma do Índio
Algo que chocava todos os religiosos Europeus quando chegavam ao Brasil era a poligamia. Mas muito mais que a poligamia o Canibalismo era algo que aterrorizava Manuel da Nóbrega e que dele fez enorme cavalo de batalha junto das autoridades.
Era prática corrente de muitas tripos após conflitos com outras tribos locais comerem os derrotados. Muitas vezes as forças Portuguesas na região davam pouca importância ao facto, desde que fossem apenas entre locais.
Manuel da Nóbrega defendeu intervenção do Governador nestes casos, e forçar acima de tudo que estes hábitos cessassem. Em sentido contrário relativizou sempre a nudez com que os indígenas se apresentavam. Algo que chocava muitos dos seus pares.
O que diriam os Irmãos de Coimbra se souberem que por falta de algumas ceroulas deixa uma alma de ser cristã e conhecer a seu Criador e Senhor e dar-lhe glória?
A fina ironia das palavras de Manuel da Nóbrega ajudaram sempre na passagem da sua mensagem. Mas esta defesa da Alma dos indígenas tem algo de muito mais profundo.
A lógica que permitia aos colonos europeus escravizarem nativos, algo contra o próprio cristianismo, era assumirem que os indígenas eram seres sem alma. E por esse motivo contariam mais como animais do que como pessoas.
Manuel da Nóbrega, tal como mais tarde o Padre António Vieira, fez um enorme esforço pela conversão dos indígenas. E nesse esforço muito passou por sempre considerarem que estes eram tão filhos do seu Deus como eles próprios.
Figura determinante na primeira fase do Brasil Português, com uma influência que dura até hoje. Faleceu no Rio de Janeiro a 18 de Outubro de 1570, com exactamente 53 anos. Na terra que escolheu amar.