D. Dinis

Muitas vezes acusamos os Portugueses de serem óptimos a agir, mas não muito virados para o longo prazo e o planeamento estratégico. Não há dúvida que a nossa capacidade de desenrascanço nos tornou peritos em explorar novos mundos, onde se tem de tomar decisões rápidas e corajosas.

Mas também é verdade que ao longo da História isso foi muito potenciado por alguns bons estrategas que viram o plano geral. E um deles foi claramente D. Dinis.

O Fomento da Actividade Produtiva

Além da centralização que D. Dinis promoveu em todo o território nacional foi também posto em prática um programa de apoio e incentivo à produção. Acabando com isso mesmo a colocar Portugal numa posição de produção de excedentes alimentares.

Tendo, durante grande parte do seu Reinado, conseguido manter Portugal em paz, numa altura em que as guerras grassavam pela Europa, conseguiu-se a oportunidade ideal para fomentar o comércio externo.

Esta é a primeira vez na História Portuguesa em que olhamos para o mar como mercadores de longa distância. E todo o apoio estatal a toda actividade, desde a produção à exportação, é muito relevante no processo.

Bolsa dos Mercadores

Dom Dinis, pela graça de Deus, rei de Portugal e do Algarve. A quantos esta carta virem faço saber que como os mercadores do meu Reino entendessem fazer uma postura entre si que era de muito serviço de Deus e meu aproveitamento da minha terra (…) que todas as barcas acima de cem tonéis que carregassem nos portos dos meus Reinos para a Flandres, Inglaterra, Lombardia, Bretanha ou La Rochelle, que paguem 20 soldos no frete. E as outras barcas abaixo de cem tonéis pagassem 10 soldos. E outrossim que se alguma barca for fretada aos mercadores da minha terra para além-mar, para Sevilha ou lugares acima ditos, cada barca pague o que é costume.

E (do pagamento desses fretes) devem esses mercadores ter na Flandres [um depósito] de cem marcos [de prata] (…) e outro em minha terra naqueles lugares que acharem convenientes. E isto fazem esses mercadores para as despesas dos negócios que tiverem ou entenderem vir a possuir na Flandres como em cada uma das outras terras, preitos e seus negócios (…) e outrossim para aquelas coisas que considerem para aproveitamento e honra da terra. E esses mercadores pediram-me por mercê que lhes confirmasse e outorgasse esta postura (…) e eu entendo que (…) é serviço de Deus e meu e grande aproveitamento da minha terra e querendo-lhes fazer graça e mercê, mando e outorgo e confirmo-lhes esta postura (…). Dada em Lisboa aos dez dias do mês de Maio (…) era de mil trezentos e trinta e um ano [1293

Foi por este decreto que D. Dinis aprovou a Bolsa dos Mercadores, que também ele tinha fomentado a criação. Fundada oficialmente a 10 de Maio de 1293 no Porto.

Com isto quem apostava na promovida expansão comercial por via naval passava a ter uma forma primitiva de seguro. O que permitia apostas mais ousadas na busca por rotas de comércio marítimo.

Salvação dos Templários e os seus Segredos

Foi durante o mandato de D. Dinis que a Ordem dos Templários foi destruída por conluio entre o Papa Clemente V e Filipe IV de França.

Em Portugal no entanto isso não aconteceu. Através de um estratagema de D. Dinis a ordem foi renomeada, reconvertida, e nacionalizada, passando a ser a Ordem de Cristo.

Muitos templários fugidos de toda a Europa e Médio Oriente aproveitaram isso mesmo para vir para Portugal e começar uma nova vida.

Esta ordem era rica. Mas mais do que o dinheiro que possuía tinha enormes conhecimentos recuperados ao longo dos anos. Entre eles muita cartografia, construção naval, e até medicina e instrumentos de navegação. Tudo isto conhecimentos a salvo em Portugal, e usados mais tarde nos descobrimentos.

E nunca esquecer que o Infante D. Henrique foi durante 40 anos Grão-Mestre da Ordem de Cristo. E que na tão icónica imagem das Naus e Caravelas Portuguesas o símbolo desta ordem religiosa estar sempre presente nas suas Velas.

Sendo que muitas das nossas maiores aventuras navais foram financiadas, e muitas vezes comandadas, por homens da Ordem de Cristo.

O Pinhal de Leiria

O Rei Lavrador, como é conhecido por vezes D. Dinis, tem a fama de ter mandado plantar o Pinhal de Leiria. E de que este viria a ser indispensável para fornecer a madeira que fez criar as nossas armadas do século XV.

Não sendo verdade, visto o Pinhal de Leiria ser anterior a D. Dinis, é dele a grande protecção deste. E provavelmente sem a sua intervenção este não teria sido tão decisivo na nossa construção naval.

A Universidade de Lisboa em Coimbra

A 1 de Março de 1290 D. Dinis criou a Universidade de Lisboa. Na altura as Universidades eram raras, tal como eram todas as formas de estudo laicas.

Mais tarde moveu a Universidade para Coimbra, mas nunca lhe parou de dar apoios. Com isto a geografia, a matemática e até a cartografia que seriam indispensáveis aos descobrimentos começavam desde logo a ser cultivados em terras lusas.

Todo este esforço, comercial, produtivo e cultural lançaram as bases para que em 1415 D. João I e os seus filhos finalmente se lançassem ao mar na aventura, e com eles todo um povo.

Teria já D. Dinis sonhado com isto mais de um século antes? Talvez, mas este tipo de visionários é que permitem depois aos aventureiros fazer a história.

 

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