
Bem sabemos que Portugal é terra de Heróis do Mar. Heróis de descobrimentos vários por este mundo fora. E de Heróis Guerreiros do Mar também, quem se pode esquecer do Leão dos Mares D. Afonso de Albuquerque.
Mas nem só destes Heróis do Mar vive a nossa história. Existem outros, bem menos aclamados, por vezes só lembrados nas suas terras. E um deles é José Rodrigues Maio, o Cego do Maio.
A vida dura do Mar no Século XIX
Quem já falou com velhos pescadores numa das nossas belas vilas piscatórias e perdeu um pouco de tempo a ouvir as suas histórias percebe o que era o mar antigamente. Hoje em dia com bons barcos, bons portos, sistemas de comunicação e até helicópteros os números de pescadores mortos todos os anos baixou muito.
Mas ainda hoje morrem. Imaginem então como era sem tudo isto no século XIX, em que bravos homens se despediam das famílias todas as noites não sabendo se voltariam. E apesar de tudo iam porque o peixe lhes metia o pão na mesa.
Os salvamentos do Cego do Maio
Uma das terras onde mais gente se apaixonou viveu pelo mar, mais gente lutou nele pela sua vida, e infelizmente mais morreu, foi a Póvoa de Varzim. E se há figura que os Poveiros têm uma estima é por José Rodrigues Maio, o Cego do Maio.
José Rodrigues Maio viveu nesta época conturbada, e como muitos dos seus conterrâneos vivia do mar. Mas mesmo quando não estava na faina ficava sempre perto do Mar olhando-o com atenção.
Dizem que tinha um talento especial para prever quando vinha uma tempestade. E quando isso sucedia lá estava ele sempre à espreita a ver se os barcos chegavam bem.
Quando algum barco naufragava lá seguia ele. Caso fosse necessário ia sozinho, mas muitas vezes seguia com os seus dois filhos que como ele amavam os seus.
Mais de cem pessoas foram salvas por este homem. Sem posses dirão muitos, mas atrevo-me a dizer que tinha algo que falta a muitos: força e coragem para salvar quem precisa.
O Cavaleiro José Rodrigues Maio
Engraçado saber que este humilde pescador poveiro é na realidade um Cavaleiro. O rei D. Luís ao saber dos feitos e da coragem de José Rodrigues Maio atribuiu-lhe a distinção de Cavaleiro Ordem da Torre e Espada.
DOM LUÍS, por Graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves, etc.: Tomando em consideração os relevantíssimos e repetidos actos de coragem e de devoção cívica que José Rodrigues Maio, da Póvoa de Varzim, tem praticado, arriscando a vida no salvamento de muitos indivíduos que teriam perecido se não fossem os esforços e verdadeira abnegação de tão benemérito cidadão; e Querendo, por estes respeitos, dar-lhe um público testemunho da Minha Real Munificência: Hei por bem fazer-lhe mercê de o nomear Cavaleiro da Antiga e muito Nobre Ordem da Torre e Espada do Valor, Lealdade e Mérito.
Nada mais justo que ver uma condecoração deste nível atribuído a quem tanto fez. Muitos Heróis de Portugal mostraram no Mar engenho para descobrir. Muitos outros Heróis de Portugal mostraram tenacidade e coragem nas ferozes batalhas para conquistar e defender no mar.
Este Herói de Portugal, e outros como ele, mostraram todo o seu heroísmo no Mar, a salvar vidas. E não é menos nobre que os outros Heróis do Mar de Portugal.