Relógio Palácio de Mafra
Relógio Palácio de Mafra - Fotografia de Bruno Jacinto

Hoje em dia temos praticamente como assente que no último fim de último Domingo de Março e Outubro a hora muda. Esta alteração, válida tanto em Portugal como em toda a União Europeia, é neste momento uma normativa comum, mas nem sempre foi assim.

O tempo do relógio de Sol

Até à invenção do relógio mecânico não era um problema a gestão da hora de Verão e de Inverno. Como o meio primário para se medir as horas era o Sol este simplesmente ditava dias maiores e menores ao longo do ano sem haver necessidade de regular uma hora fixa.

Durante muitos séculos a medição do tempo era feita de uma forma linear. O dia começava ao nascer do sol, e dividia-se o tempo que seguia a partir dai. Por exemplo na Babilónia, e em muitos que lhes seguiram as pegadas, contavam-se 12 horas entre o nascer e o pôr do sol. Isto fazia que as horas nem sempre tivesse a mesma duração ao longo do ano.

Mais tarde começou-se a medir o tempo a partir do fenómeno mais fácil de observar todos os dias, o meio dia solar. Quando o Sol incide sobre a Terra num angulo recto, ou seja quando está mais alto no horizonte, assumia-se como o meio dia. Contando depois doze horas para trás como a meia noite, e tendo assim uma datação semelhante à que usamos hoje em dia. Mas que no entanto também se movia na realidade ao longo do ano.

A necessidade de uma hora exacta

Até à revolução industrial ainda era pouco relevante o conceito de hora exacta, mesmo já existindo relógios mecânicos, mas tudo isso mudou com o advento do transporte ferroviário. Com este tipo de transporte disseminado por todo o mundo começou a ser cada vez mais relevante todas as regiões andarem a um mesmo compasso.

Se eu preciso saber a que horas o comboio passa na minha localidade, e que é uma tabela para toda a região que usa este comboio, precisamos de estar de alguma forma alinhados. Como tal o relógio solar deixou de ser perfeito, e passou a ser preciso não só existirem relógios mecânicos, como a estarem todos alinhados entre eles.

Como tal fixaram-se as horas para cada país, ou região, e todos os relógios deveriam estar certos entre eles. Normalmente isto era conseguido trazendo um relógio certo a partir da capital para cada sede de Concelho ou Freguesia que depois mantinha os relógios por sua vez todos acertados a partir desse.

Alterar a hora para poupar energia

A viver em Paris em 1784 Benjamin Franklin escreveu no seu “Ensaio sobre a poupança da luz solar” que se deveria começar a mudar a hora regularmente durante um ano civil. Segundo ele deveria ser feito para maximizar o número de horas úteis com luz solar, potenciando assim uma poupança de velas e outras formas de energia. Na verdade defendeu que isto deveria ser feito alterando os horários das pessoas e serviços durante as diferentes estações do ano, mas a semente estava lançada.

Cádiz em Espanha seguiu esse conselho de forma firme em 1810 passando a mudar os horários de serviços públicos e reuniões numa hora entre 1 de Maio de 30 de Setembro todos os anos.

Mais tarde Geoge Hudson tentou na Nova Zelândia um desfasamento de duas horas, desta feita mexendo mesmo na hora oficial, e várias partes do mundo fizeram-no em pequenas experiências ao longo do tempo. Mas o golpe final para esta mudança ocorreu em 1916 pela mão do Império Alemão e o seu aliado Império Austro-húngaro.

Grassava a 1ª Guerra Mundial que fazia consumir recursos industriais a um ritmo nunca visto pela humanidade até aí. Todas as medidas que pudessem aumentar a produção ou reduzir o desperdício foram estudados. E como havia a noção de que esta medida defendida por alguns estudiosos deveria trazer uma poupança de recursos foi adoptada a 30 de Abril de 1916. Sendo que inúmeros países o fizeram logo de seguida em resposta.

A Mudança de Hora na Primeira República

Portugal foi um dos países que desde logo imitou os poderes do centro da Europa tendo o governo chefiado por António José de Almeida implementado a Mudança de Hora a começar a 17 de Junho de 1916.

Esta foi colocada no entanto como tendo a data de 1 de Março como a regra, que foi depois cumprida entre 1917 até 1921. Já em 1922 com António Maria da Silva a chefiar o Governo esta foi retirada, situação em que ficou nesse ano e no seguinte, sendo depois reatada apenas por um ano em 1924 no governo de Álvaro de Castro, e descontinuada no governo de Vitorino Guimarães.

É num governo também de António Maria da Silva em 1926 que esta é readmitida para o último ano deste regime que viria entretanto a cair no Golpe Militar de 28 de Maio de 1926, ocorrido precisamente durante a Hora de Verão.

O Estado Novo e a Hora de Verão

Nos primeiros anos da ditadura militar, e consolidação do que viria a ser o Estado Novo, apenas teve dois anos sem Mudança de Hora, em 1930 e 1933. Entrados no período da 2ª Guerra Mundial e estabilização da ditadura chefiada por António de Oliveira Salazar a Mudança de Hora foi-se mantendo uma constante, mesmo com variações ligeiras do dia em que ocorria, isto até 1949.

Em 1949 começou uma prática que tornou esta hora algo mais fácil para a memorização popular. A hora de Verão começava a partir daí a ser uma constante primeiro Domingo de Abril as 2 horas da manhã, sendo que terminava às 3 horas da manhã do primeiro Domingo de Outubro. Uma lógica semelhante à actual, mesmo que ligeiramente desfasada.

Este sistema vigorou até 1966, onde a hora de Verão vigorou até ao fim do ano, sendo que a partir do fim desse ano e até 1976 já não se efectuaram mudanças para a hora de Verão.

A Hora na Democracia Portuguesa

Após o retorno à democracia em Portugal, a 25 de Abril de 1974, tivemos também um regresso da mudança de hora em 1976, a começar logo no inicio do ano. A partir daí e até 1996 tivemos sempre um sistema alinhado anualmente por decreto, mas que tendia a ter como média as mudanças no primeiro domingo de Abril e último de Setembro ou primeiro de Outubro.

Isto até à chegada da legislação Europeia que veio a uniformizar todos os estados membros em 1997 sendo que a partir daí ficou fixa a hora da mudança para Hora de Verão à uma da manhã do último Domingo de Março, regressando a Hora de Inverno à segunda hora do último Domingo de Outubro.

O Ano de 1992 sem Hora de Inverno e retorno à norma em 1996

O Governo de Aníbal Cavaco Silva tomou a decisão de em 1992 não mudar para a hora de Inverno em Outubro para fazer alinhar a hora Portuguesa com a dos países do Centro da Europa. Ao fazê-lo efectivamente durante quatro anos Portugal viveu num horário desfasado uma hora do meridiano de Greenwich, provocando alguns protestos e a disrupção de algumas rotinas das pessoas.

Durante o Inverno o sol apenas se levantava já a meio da manhã, e no Verão ainda era dia bem depois das 22 horas. Alguns especialistas colocam esta mudança como responsável pelo aumento de acidentes nas estradas, e até consumo de ansiolíticos.

Verdade ou não foi uma experiência com pouco sucesso que viria a ser terminada pelo Governo de António Guterres logo no seu primeiro ano, e que nunca mais se veio a repetir.

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